domingo, 24 de outubro de 2010

Homônimos


Deixa o amanhã e a gente sorri que o coração já quer descansar. (Los Hermanos)

Te conheci há dois anos. De casaco verde, cabelo meio bagunçado e o jeito relaxado de falar com certa autoridade. Você era quem talvez eu queria outro dia qualquer, outro sábado vazio, outro inverno pra esquentar. Era interessante, era a bola meio murcha que poderia encher e fazer um gol. Mas nada que me fizesse tirar a camisa, sair correndo e vibrar.

Te conheci há dois meses. Era um simples final de uma viagem que duraria alguns segundos a mais. Você tinha uma arma, ou duas, talvez três depois que me acertou. Dançamos, piscamos, sabíamos que mesmo os números trocados não tornaria nossa função simples em uma artimética complexa. Insisti, lembrei dos pássaros, esqueci o boné e estou há dias enjoado de qualquer doce.

Te conheci há duas semanas. Não era pra ser, era para meu dedo podre mais uma vez funcionar. O tipo errado de escolher sempre é o que atrai minha atenção, comanda meu inconsciente tão forte que Murphy certamente o admira profundamente. Mas em meio aquele acidente, nós já estamos lá. Cheguei a subtrair seu poder de existir-ser pra mim e te comparei a metade do que se pode chamar de realização noturna. Se não erro na escolha, erro nas percepções iniciais.

Ser gente grande era dividir risos mesmo que em cenas diferentes, mesmo que por motivos bobos. Era dividir a pipoca, o refrigerante e o espaço entre cada respiração. Era compartilhar o ombro, as pequenas horas e se atrapalhar quando a marcha entrar na terceira. Três encontros, três talvez (não) eternas histórias, mas três laços que homonimamente se cruzam. Talvez os nomes se troquem, se confudam, se arrisquem a ganhar outras organizações ou ao menos um sobrenome que faça a atração seguir por mais tempo.

Texto de Patrick Moraes

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Amanhã

É quase um romance. Desligue nossos celulares, três dias pra um começo, vem! (Vanessa da Mata)

Levantei cedo só para olhar da janela o céu ficando claro e poder pensar que amanhã está mais perto de mim. E vi lá do décimo andar uma menina de blusa vermelha andando sozinha, sem livros, sem mochila, despedaçando uma flor aos poucos. Vai ver ela só queria brincar de mal-me-quer e querer cada pétala no chão dizendo o quanto ele a queria. Vai ver meus olhos queriam mais que tudo o amanhã embaçado da noite. Sorri sozinho de repente!

Pão, geléia de morango e um copo de leite morno. Odiava comer pela manhã, mas aquele dia era diferente, era antes de amanhã. Queria até uma amora depois do pão, uma música de Calcanhotto no rádio e apenas uma mensagem na caixa de entrada do celular com duas palavras: te espero! Mania boba de querer controlar tudo, planejar os dias e ter certeza que reciprocidade era a sonoridade de amanhã.

Peguei o carro, liguei o som e tocou aquela música que sempre sonhei ouvir deitado em tua cama, fazendo cafuné e brincando de verdades ocultas. Com certeza iríamos rir depois das besteiras e das manias irritantes que sem querer a gente confessou, mas se a cama fosse de solteiro a proximidade diminuiria a incoerência e faria de simples beliscões um carinho. Cheguei ao destino de hoje, mas a estrada deveria ser bem mais longa do que esperava. Desliguei o carro e fiquei parado por alguns segundos, perdendo aula, mas lembrando das formas estéticas que vivenciei contigo, dias atrás. O feeling que me fez despertar foi o simples bater de galho no vidro da frente. De certo, ele só queria dizer que o amanhã a gente não planeja, a gente simplesmente espera pra viver.

Texto de Patrick Moraes