quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sem remo


But there's a side, to you, that I never knew, never knew.
All the things you say they where never true, never true.
Adele

Ilhado. Cadê o barco que eu deixei escorado logo ali perto pra fugir em situação de emergência? Cadê a boia laranja que eu guardei com tanta força pra simplesmente saber usá-la quando preciso? Parece que foram embora todos os poréns e ficaram as angustiantes condicionais do se. Sinto-me preso em meio a tantos iguais que conseguem me ilhar num íntimo imperfeito, ou perfeito demais. Talvez eu sonhe com o brilhantismo, o papel perfeito para mostrar que existe sim valores. Mas me prendi na fantasia de um cisne, nem negro nem branco, apenas cheio de asas cortadas que não conseguem se mover. Sinto que minhas fases de maturação resultam sempre na decepção por escolhas erradas e consequências terrivelmente arrasadoras.

O que parece ser boneco de vitrine é tão oco que num simples esbarrão se transforma em cacos. Verdade seja dita, os grandes encantos começam pelos olhos, mas não se satisfazem nele. Esquecer os carinhos que pareciam tão sinceros se torna fácil depois de tanta sujeira, de tanta mentira inventada com o simples propósito de tornar valores descartáveis. Te recriei agora em duas palavras, assim como você se inventou em duas pessoas. Já não consigo distinguir a cachorrada da covardia e talvez nem você consiga separar tão fácil assim. Vive junto com ambos e alimenta os dois em medida tão compaçada que acaba tropeçando nas pedras que sem querer escapa do seu bolso.

Mesmo frágil, mesmo com autopunições, mesmo com a terrível mania de perfeccionismo amoroso atormentando cada milésimo de segundo que tento reorganizar a bagunça de um simples final de semana, a vida continua. E você? Você simplesmente passa com uma marca negra, aprendendo que fazendeiro que não tem condições de cuidar da plantação grande, acaba não colhendo nada quando o temporal chega.

Texto de Patrick Moraes