segunda-feira, 13 de maio de 2013

Procura-se


"Uma história que
inventa o seu fim.
Um você para mim."
adaptado de Tulipa Ruiz


Procura-se um amor desses todo errado. Sem cartas românticas, sem apelidos de casal enjoado, sem abrir a porta do carro. Um amor que no primeiro encontro te leve para tomar uma cerveja e não um vinho acompanhado de um jantar. Um daqueles amores que prefere esquentar os pés embaixo da coberta a dormir de conchinha.

Procura-se um amor ocupado, sem tempo de te lembrar o dia inteiro que você é especial. Um amor que durma enquanto vocês assistem ao filme que ele tanto pediu ou se quer se dê conta de quem está cantando naquele show do final de semana ao seu lado.

Procura-se um amor atormentado, desses que desconfia por tanto amor mal acabado. Mas um amor que morra de ciúmes e só consiga resolver tudo depois de meia hora de papo e uma hora de sexo. Um desses que te satisfaça sem pudores, mas te respeite como a coisa mais rara que ele já conquistou um dia.

Procura-se um amor que te acorde com um beijo. Daqueles que te faça arrepiar quando esfrega o rosto no seu cangote. Um amor que te alucine com um sorriso de canto de boca ou um simples piscar de olho indiscreto no meio de uma reunião de família. Um amor desses perigosos, que te arraste para o canto mais escuro de uma festa prometendo te roubar por apenas alguns minutos.

Procura-se um amor sem o puro amor. Um amor com o mero desejo de amar. Desses que seja capaz de amenizar os defeitos, os porres e os enjoos de final de domingo. Um amor que, no fundo de tudo, não exija busca, nem exaustivas caminhadas. Um amor que seja só descobertas.

Texto de Patrick Moraes

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Um sofá a dois


"Quando eu acordo do sono, sua sombra desaparece, sua respiração é só a névoa do mar envolvendo meu corpo."
The Corrs

Olhei para o sofá e você ainda estava lá. Deitado, com olhos perdidos, assustados na confusão de pensamentos que você nunca aprendeu a organizar. Ainda passava a mão pelo cabelo de loiro indefinido. Ainda sorria todas as vezes que se dava conta da minha presença em meio a sua absorta multidão.

- Não sei como consigo te amar tanto em tão pouco tempo.
- Não sei como você consegue lidar com tantos fantasmas em tão pouco tempo.

Sorria gracioso com as minhas poucas verdades. Talvez nunca se deu conta de que nossos estágios de vida eram nosso principal desafio. Duas escadas e tanta vontade de alcançar o terraço um do outro que nem percebia as mãos calejadas e os pés cansados.

O olhar de criança em mim e as preocupações de adulto precoce em você. Os sonhos de um sentimento cheio de estranhezas, purezas e doçuras. Os pesadelos de uma vida preenchida por tortos olhares em busca de apenas um ponto falho para cruzar a nossa linha tênue entre o amor racional e o amor dilacerado.

- Noite passada, sonhei que você ia embora. Era de manhã cedo, fazia frio, a janela ainda estava embaçada pela neblina lá no alto. Abri os olhos e não te encontrei mais do meu lado. Parecia tão real, parecia tão preciso.
- E se um dia isso acontecer? 
- Você quer se perder de mim?
- Nunca.
- E por que pergunta?
- Porque preciso saber como cuidar do seu coração mesmo estando longe.

Deitei do seu lado como se aquele sofá fosse o menor dos mundos e o maior dos sentimentos. Os olhos ainda brilhavam, não sei se de medo pela possibilidade de um coração cuidado de longe, não sei se de alívio pela certeza de que, dilacerado ou não, havia amor ali. Segurei sua mão, coloquei em meu peito, fechei os olhos e pude sentir pela última vez o que chamaria de afago na alma.

- Você nunca vai poder cuidar do meu coração de longe. Você nunca vai conseguir fazê-lo sorrir se não estiver perto de mim. Ainda que a tua distância seja atravessar o oceano de ilusões perdidas, ainda que os nossos corpos ocupem lugares tão mais distintos quanto o sol e a lua, eu te guardarei aqui dentro. Sem sorrisos, sem afetos, sem doçuras. Mas ainda com uma imensidão das nossas lembranças dispersas pela brisa do tempo.

Texto de Patrick Moraes