quarta-feira, 12 de junho de 2013

O surto de amor

"Sim pro inexplicável.
Eu disse sim."
Sandy


Não, eu não pretendo achar a metade da laranja. Eu simplesmente espero que aconteça. Talvez eu peque no esperar, mas eu compenso no acontecer. Não quero quem me complete, nem que venha pela metade para formar um inteiro. Se for pra vir, que venha cheio. Cheio de vontades, cheio de querer, cheio de motivos.

Não, eu não preciso de mais poréns só para, enfim, completar uma frase. Uma frase mais necessária no texto de outros do que no meu. Eu só preciso continuar reticente, com algumas vírgulas e uma ortografia impecavelmente capaz de traçar as melhores e piores confusões sentimentais. E se faltou uma crase, me perdoe pelo deslize gramatical e me considere pela (in)coerência dos meus gestos sutis.

Não, eu não me tornei um doido varrido desses que te procura em qualquer esquina, em qualquer meia viagem ao trabalho ou naquele vagar solitário de pensamentos em pleno domingo à tarde. Se as noites são mais frias e menos preenchidas sem abraços, o calor vem das palavras amargas de qualquer muro virtual ou mesmo de uma página amarela e mofada de um presente antigo.

Sim, eu surtei de amor quando desejei reunir todos os pedaços de ternura soltos ao meu redor. Eu surtei de amor quando consegui entender que namorar é muito mais uma definição da alma do que das convenções. Surtei quando vi meu coração lembrar de você, mesmo quando o você não fosse meu, não fosse aquele amor de sessão da tarde, não viesse com alianças douradas e uma flor. 

Eu apenas surtei de amor quando o frio me abraçou hoje e não me deu espaço para outras metades, outros desejos, outros corpos inteiros. Apenas para recomeços em salas de espera de qualquer consultório sentimental por aí.

Texto de Patrick Moraes

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